A triagem neonatal é uma das mais importantes estratégias de saúde pública para a detecção precoce de doenças graves e tratáveis em recém-nascidos. Embora muitas vezes seja associada apenas ao “teste do pezinho”, ela envolve um conjunto de exames fundamentais para garantir o desenvolvimento saudável na primeira infância.
Para além da coleta, o olhar do médico é essencial em todas as etapas, desde a orientação aos pais até o encaminhamento e manejo dos casos suspeitos. Neste artigo, você vai entender o que mudou, quais condutas médicas são esperadas e como se manter atualizado pode impactar diretamente a vida do paciente.
Triagem neonatal: um conjunto de exames essenciais
No Brasil, a triagem neonatal envolve diferentes testes realizados nos primeiros dias de vida, idealmente entre o 2º e o 5º dia após o nascimento. O mais conhecido é o teste do pezinho, que passou por uma importante ampliação com a Lei nº 14.154/2021, prevendo a inclusão progressiva de mais de 50 doenças metabólicas, genéticas e infecciosas no painel nacional.
Além dele, outros exames completam a triagem neonatal:
O teste do coraçãozinho mede a saturação de oxigênio e ajuda a identificar cardiopatias congênitas. O teste do olhinho permite diagnosticar catarata congênita e retinoblastoma. O teste da orelhinha, essencial para o desenvolvimento da linguagem, avalia a função auditiva. E o teste da linguinha observa alterações no frênulo lingual que podem prejudicar a amamentação.
Cada um desses testes tem papel específico, mas todos demandam atuação clínica criteriosa, desde a coleta até o encaminhamento para especialistas.
Condutas clínicas após resultados alterados
Quando um resultado de triagem neonatal é alterado, o tempo se torna um fator crítico. A intervenção precoce pode ser decisiva para o prognóstico da criança. O médico que acompanha o recém-nascido deve estar apto a interpretar os laudos, acolher a família e encaminhar rapidamente para exames confirmatórios e acompanhamento especializado.
Em casos de hipotireoidismo congênito, por exemplo, o tratamento iniciado nas duas primeiras semanas de vida pode evitar danos neurológicos permanentes. Já no caso da fibrose cística, quanto mais cedo for instituída a abordagem multidisciplinar, maior a chance de preservar a função pulmonar e nutricional do paciente.
Desigualdade no acesso: o desafio da cobertura nacional
Apesar da obrigatoriedade dos testes pelo SUS, a cobertura da triagem neonatal ainda apresenta desigualdades regionais. Em muitas localidades, faltam estrutura, capacitação das equipes e integração com centros de referência. Nessas situações, o médico torna-se a linha de frente não só na execução, mas na garantia do direito ao diagnóstico.
É também papel do profissional orientar os responsáveis, cobrar resultados que não foram entregues, identificar sinais clínicos que exigem investigação, e buscar articulação com a rede de atenção à saúde da criança.
A importância da formação continuada
Interpretar corretamente os testes, conduzir o paciente e dialogar com os serviços especializados são responsabilidades que exigem conhecimento técnico atualizado. A formação médica básica nem sempre aprofunda essas competências, o que reforça a necessidade de educação continuada.
Pós-graduações em áreas como Pediatria, Neonatologia e Medicina de Família e Comunidade ampliam o repertório clínico do profissional e o preparam para agir com segurança desde os primeiros dias de vida dos pacientes.
Conclusão: para cada dia, uma chance de mudar o futuro
A triagem neonatal não pode ser vista como uma etapa burocrática. Cada exame representa uma oportunidade de prevenir complicações sérias e oferecer qualidade de vida para o recém-nascido.
No FGMED, acreditamos que a formação médica deve preparar o profissional para esses momentos críticos. Nossas especializações são construídas para fortalecer sua atuação clínica, ampliar seu conhecimento e ajudá-lo a oferecer o melhor cuidado desde o início da vida.
Fontes:
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Ministério da Saúde. Manual Técnico da Triagem Neonatal Biológica. 3ª edição, 2021.
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BRASIL. Lei nº 14.154, de 26 de maio de 2021. Altera a Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente) para ampliar o rol de doenças rastreadas pelo teste do pezinho.
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Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Triagem neonatal ampliada: orientações e recomendações. Disponível em: https://www.sbp.com.br
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Rede Nacional de Triagem Neonatal. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Triagem Neonatal. Ministério da Saúde, 2020.
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Fiocruz. Triagem neonatal no SUS: avanços, desafios e perspectivas. Cadernos de Saúde Pública, 2021.