Junho é o mês de conscientização sobre a anemia e a leucemia, e o Junho Laranja convida a comunidade médica a refletir sobre a importância do diagnóstico precoce e da conduta adequada nesses quadros. Mesmo sendo comuns, as anemias ainda são subestimadas na prática clínica, o que pode atrasar o tratamento de doenças subjacentes e comprometer o prognóstico do paciente.
Neste artigo, revisamos os principais pontos para um diagnóstico diferencial eficaz, destacando os exames mais relevantes, as condutas clínicas atualizadas e o papel do médico generalista no manejo seguro da anemia.
Por que uma avaliação cuidadosa é essencial
A Organização Mundial da Saúde estima que mais de um bilhão de pessoas no mundo convivem com algum grau de anemia. No Brasil, a carência de ferro continua sendo a principal causa, sobretudo entre crianças, gestantes e pessoas em situação de vulnerabilidade.
Mas o desafio está além da ferropriva. Doenças crônicas, deficiências de vitamina B12, distúrbios hematológicos e síndromes hereditárias também precisam ser consideradas. Tratar toda anemia da mesma forma pode resultar em erros diagnósticos, atrasos terapêuticos e agravamento de quadros clínicos.
Diagnóstico diferencial e interpretação laboratorial
O hemograma deve ser analisado de forma integrada. A interpretação cuidadosa do VCM, RDW e reticulócitos permite classificar o tipo de anemia e orientar exames complementares, como ferritina, vitamina B12, ácido fólico, eletroforese de hemoglobina e marcadores de hemólise.
O raciocínio clínico também inclui fatores como sangramentos ocultos, história familiar, sintomas neurológicos, padrão alimentar e uso de medicamentos. Esses dados ajudam a diferenciar entre causas nutricionais, infecciosas, inflamatórias ou genéticas, evitando tratamentos inadequados.
Condutas clínicas e critérios de encaminhamento
Nos casos leves, especialmente de origem ferropriva, a conduta inicial pode ser ambulatorial. Mas a ausência de resposta terapêutica após 6 a 8 semanas deve acender o alerta para causas ocultas. Em pacientes com manifestações sistêmicas, alterações neurológicas ou sinais de hemólise, o encaminhamento para o hematologista é indispensável.
Cabe ao médico generalista reconhecer os limites da abordagem inicial e atuar como elo entre a atenção básica e os centros especializados. A comunicação clara com o paciente e o acompanhamento regular são parte essencial desse processo.
Educação continuada e o papel do FGMED
A campanha Junho Laranja reforça a urgência de capacitar os profissionais de saúde para reconhecer os sinais precoces da anemia e da leucemia. Para isso, a formação médica precisa ir além do básico.
O FGMED oferece pós-graduações médicas em Hematologia e Hemoterapia e Clínica Médica, que ampliam o domínio clínico necessário para interpretar exames com segurança, conduzir casos com autonomia e encaminhar quando necessário. São cursos voltados para a realidade do atendimento, com aplicação imediata na prática profissional.
Conclusão
A anemia pode ser o primeiro sinal de um problema muito maior. No contexto do Junho Laranja, reforçamos a importância da escuta atenta, do olhar crítico sobre o hemograma e da atuação médica baseada em conhecimento atualizado.
No FGMED, acreditamos que decisões clínicas mais seguras começam com uma formação sólida. Por isso, seguimos contribuindo para a capacitação de médicos em todo o Brasil, sempre com foco na prática responsável e no cuidado integral ao paciente.
Fontes:
BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de condutas para anemias na atenção primária. Brasília: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/anemia. Acesso em: 3 jun. 2025.
INSTITUTO LADO A LADO PELA VIDA. Junho Laranja: campanha de conscientização sobre anemia e leucemia. Disponível em: https://ladoaladopelavida.org.br/junho-laranja/. Acesso em: 3 jun. 2025.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Anaemia – key facts. 2023. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/anaemia. Acesso em: 3 jun. 2025.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CLÍNICA MÉDICA. Diretrizes para abordagem diagnóstica das anemias. Disponível em: https://www.sbcm.org.br/diretrizes. Acesso em: 3 jun. 2025.
WINTROB, B. R.; LEE, G. R. Wintrobe’s clinical hematology. 14. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2019. (Referência complementar via UpToDate: Approach to the adult with anemia. Disponível em: https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-adult-with-anemia. Acesso em: 3 jun. 2025.)