A febre é um dos sintomas mais comuns na prática pediátrica e também um dos que mais assustam os pais. A chamada “febrefobia”, termo usado para descrever o medo exagerado da febre em crianças, é um desafio cotidiano nos consultórios e emergências.
Com a nova diretriz da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), publicada em 2025, o tema voltou ao centro das discussões clínicas. A temperatura considerada febre mudou, mas o recado principal da atualização vai além dos números: é hora de ensinar as famílias a olhar para a criança, não apenas para o termômetro.

1. Entendendo a nova definição de febre
De acordo com a SBP, agora a febre é definida como temperatura axilar de 37,5 °C ou mais (ou 38 °C por via oral ou retal, medida por três minutos). A alteração segue padrões internacionais e reflete uma visão mais fisiológica do sintoma.
A febre não é uma doença em si, mas um mecanismo natural de defesa. O aumento da temperatura corporal é uma resposta do sistema imunológico diante de infecções virais ou bacterianas, ajudando o corpo a combater agentes invasores.
O que muda na prática:
Médicos devem reforçar que a temperatura isolada não define gravidade. O estado geral da criança — alerta, hidratação, respiração, resposta aos estímulos — é o que realmente orienta a conduta.
2. O papel do médico diante da febrefobia
A febrefobia nasce da combinação entre informação desencontrada, experiências passadas e medo do pior. Muitos pais associam febre alta a convulsões, meningite ou infecções graves, e acabam medicando sem necessidade ou correndo ao pronto-socorro a cada variação de décimos no termômetro.
O papel do médico é transformar esse medo em conhecimento, com comunicação empática e segura.
Como orientar os pais na prática:
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Explique que nem toda febre indica gravidade. Ela pode ser apenas um sinal de reação imunológica.
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Destaque que o foco deve ser o bem-estar da criança, não o número exato da temperatura.
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Reforce que antitérmicos (paracetamol, dipirona, ibuprofeno) só devem ser usados se houver desconforto evidente, e nunca de forma alternada.
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Oriente sobre sinais de alerta: febre persistente, sonolência, dificuldade para respirar, prostração, convulsões ou desidratação.
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Ensine sobre hidratação, roupas leves e ambiente ventilado, que ajudam o corpo a se autorregular.
3. Como abordar o tema nas consultas e no pronto atendimento
A febre é um momento de vulnerabilidade para a família e também uma oportunidade de educação em saúde.
Durante a consulta, médicos podem aplicar uma abordagem em três etapas:
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Validar o sentimento: reconhecer o medo dos pais (“eu entendo que ver seu filho com febre é angustiante”).
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Explicar com clareza: usar linguagem simples e direta sobre o que é febre e por que ela acontece.
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Empoderar a decisão: oferecer orientações objetivas sobre quando observar em casa e quando procurar atendimento.
Essa prática não só reduz atendimentos desnecessários como aumenta a confiança na relação médico-família e melhora a adesão às condutas.
4. A febre como oportunidade de atualização profissional
A mudança nas diretrizes da SBP é um lembrete: a Medicina Pediátrica está em constante evolução, e os profissionais precisam se manter atualizados para orientar com segurança.
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Os médicos aprendem não só a manejar quadros febris, mas também a comunicar de forma eficaz com os responsáveis, integrando ciência e empatia no cuidado infantil.
5. Conclusão: da febre ao acolhimento
Lidar com a febrefobia é, em essência, um ato de educação em saúde. Quando o médico acolhe, explica e guia, ele não apenas trata a febre, ele ensina a família a enxergar o corpo da criança com confiança e calma.
A atualização da SBP é mais do que uma mudança numérica: é um convite a repensar a relação entre conhecimento, medo e cuidado.
E para o médico que quer seguir essa linha de atualização constante, o FGMED oferece o caminho ideal para transformar teoria em prática.
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Referências
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Abordagem da febre aguda em pediatria e reflexões sobre a febre nas arboviroses. Documento científico, 2025.
GRANCHI, Giulia. Por que temperatura considerada febre mudou. BBC News Brasil, 21 out. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cy0ydny99reo. Acesso em: 28 out. 2025.
G1. Febre em crianças: quando medicar, quando levar ao pronto-socorro e por que orientações mudaram. G1 Saúde, 22 out. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/saude/noticia/2025/10/22/febre-em-criancas-quando-medicar-quando-levar-ao-pronto-socorro-e-por-que-orientacoes-mudaram.ghtml. Acesso em: 28 out. 2025.